sábado, 24 de abril de 2010

Bombril na Antena

O PT e a MTV são hábitos que uma vez adquiridos na infância tornam-se difíceis de abandonar na vida adulta. Além de conviver com seus defeitos, herdamos o ranço de superdimensioná-los. O que é normal ou padrão nos outros, neles soa como uma imperdoável traição a nossa ingenuidade. A metáfora política acaba nesse parágrafo mesmo, não precisa correr das próximas linhas. Daqui pra frente cada um decida por conta própria quem é o Delúbio do canal.

Começo pelo primeiro pí. Não lembro qual o programa, mas eram umas oito da noite. O apito de censura bastou pra eu começar com a nostalgia. Ah, o bem que fazia aos meus ouvidos infantis, os palavrões ouvidos com naturalidade pela tarde, com hambúrguer de frango e guaraná. Era Beavis e Butt head, o Gordo num iglu quebrando os CDs, até aquele programa de debates da Soninha. (Hoje o Gordo trabalha pro Bispo Macedo e a Soninha pro Kassab. Pelo menos no Beavis e Butt head a gente pode confiar, nem tudo está perdido nesse mundo).

Só que há coisas piores que o moralismo súbito. Os reality shows da MTV gringa fazem o pessoal do Big Brother parecer gente boa. Tem um inacreditável que são uns meninos mostrando a mansão da família. Ilha de Caras perde. A programação nacional também não anda lá essas coisas. De quem foi à idéia do Lobão reencarnado no papel de Caetano Velloso? Tudo bem o sujeito querer fazer um programa polêmico-pretensioso, mas ele não devia pelo menos uma vez chamar um convidado que discordasse dele? O programa de humor improvisado lembra muito os exercícios de uma aula de teatro, o que não é bem o que a maior parte das pessoas classificaria como engraçado.

Há também os programas feitos pra galera de colégio. Sei que eu não devia dar palpite nisso, mas sou um sujeito que se preocupa com as novas gerações. Acho que a banda que você escuta com 12 anos vai ter muita influência na sua vida. No meu caso era Raimundos. Garanto que ouvir “Puteiro em João Pessoa” é muito melhor pra cabeça de um moleque do que o que essas versões encarnadas do “The Mommy's Boys” disseminam por aí.

Não que eu seja do tipo saudosista, acho que a proporção de bandas ruins, hoje, é mais ou menos parecida com a do fim dos anos 90. Só que no lugar das gostosas de shortinho entraram caras de franjinha. O que torna o mundo um lugar pior pra se viver.

Pra não dizer que eu só falo mal das coisas, o Top Top, continua um programa bom, embora vez ou outra eu tenha a impressão de estar vendo uma reprise. O Furo MTV é engraçado, mas não tanto pra durar meia hora. O Comédia às vezes tem bons momentos, como o da torcida acompanhando o café do Túlio Maravilha. O do Didi tem uma cara-de-pau massa, e é um programa que não se leva a sério, o que já é bastante. E o Cazé continua mantendo o espírito das antigas. É o Eduardo Suplicy do canal. Ah, e é impossível não se apaixonar pela Titi, após dois minutos olhando a ruiva na solidão da hora do almoço.

6 comentários:

  1. Excelente!!! Inteligente e bem humorado como sempre ;D

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  2. No fim, as relações Gordo/bispo e Soninha/kassab que você aproximou não são muito diferentes da mtv/público de hoje em dia. Um exemplo bom é a exibição desse programa "ilha de caras para crianças" com a mudança da faixa etária do público alvo de uns anos pra ca. Na verdade, soninha e gordo trocaram 6 por meia duzia.

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  3. É um argumento bom Lucas, mas eu discordo. Acho que ainda existe diferença entre algo que foi estragando e algo que já é ruim por natureza, como o PFL e a Universal. Mas é uma boa discussão.

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  4. C esqueceu de falar do Garoto Enxaqueca

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  5. Rapaz, vc sabe que a ideia pra esse texto era reclamar do fim das vinhetinhas. Aí eu ia falar das clássicas, da Vacaláctica e do Garoto Enxaqueca. Só que voltaram a fazer as propagandas doidonas, então a reclamação ia acabar perdendo o sentido. Abraço

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