domingo, 28 de novembro de 2010

Vem aí...

O Projeto de Conclusão de Curso mais picareta da década que se inicia...

"Parei no botequim de trás da redação e pedi meu Undenberg no copo plástico. Não podia perder meu tempo ali onde não acontecia nada demais. A não ser talvez o crack, o videopôquer e o jogo do bicho. Mas isso era tão manjado que até o juiz da comarca vizinha era cliente fiel. Fiz minha fezinha no avestruz e fui pra barraca das frutas comprar um abacaxi gelado pra rebater o velho Under."

"A nuvem de poeira que saía do asfalto selvagem de Ceilândia precisava se esforçar um pouco mais se quisesse sujar meu chapéu. Desci da estação do metrô e fixei meus olhos nas ruas que se ofereciam feito putas com plano de assistência odontológica vencido. Algo na terceira me lembrou os molares de Norma Sueli. Escolhi a segunda. A mesma arcada não me engana duas vezes."

"Evidente que aquele não era um mero pedaço vagabundo de plástico compactado. Não havia outras cópias. Ao meter a mão no paletó marrom de Geraldo Basílio, o meliante levava o registro de toda a sua carreira. Canções e poemas como “Longe do Meu Bem”, “Homenagem a Senna”, “Menino Desprezado” e “Saudade não mata gente, mas maltrata o coração” ficariam restritas aos bares, churrascarias e rodoviárias de Brasília e região."

trechos de Roberval, a viola e o repente


Revista Cagüeta


Breve numa banca de graduação perto de você,

PS: Precisam-se de diagramadores, ilustradores que aceitem trabalhar de graça e com prazo curto

ATUALIZAÇÃO (UPDATE é o cacete): E não é que eles apareceram mesmo. Valeu Juninho, Ludinha, Maurício, Miguel (o melhor diagramador do mundo) meninas modelos e João quem diria que a gente ia se formar com isso?

PS da atualização: Agora precisa-se de distribuidores, diretores comerciais e principalmente patrocinadores

sábado, 13 de novembro de 2010

Folga do Ócio

matéria minha que saiu no Jornal de Teatro, em fevereiro

Improviso, poeira e arte

O teatro na pré-história de Brasília

por Igor Miguel Pereira


O teatro em Brasília começou na hora do almoço. Como eram raras as folgas entre os trabalhadores da construção da cidade, a arte tinha de vir acompanhando a digestão. A lona preta e empoeirada da carroceria dos caminhões servia como palco. Pro elenco, bonecos, trazidos na viagem ou feitos no acampamento.

Os pioneiros que emprestavam aos fantoches a voz e os movimentos vinham, em sua maioria, do Nordeste. De lá trouxeram a mistura de circo, feira e cordel que fazia dos autores os mais interessantes personagens do espetáculo. O texto, feito na hora ou aprendido na infância, muitas vezes era em verso. Os enredos variavam entre temas do cotidiano, religiosos ou histórias populares. O humor e a moral no final apareciam com freqüência.

O mamulengo era a mais cândida distração daqueles tempos. Para desafogar da rotina das obras, os candangos iam até as farras e zonas de meretrício nos arredores da capital em formação. Entre a cachaça e as moças esqueciam da saudade da terra natal, dos turnos massacrantes e da violência dos capatazes.

Para a elite do futuro Distrito Federal havia outras opções. Os salões do Clube Paranoá e do Brasília Palace Hotel recebiam concertos de câmara, requintados bailes de carnaval, sessões de cinema e até mesmo um show das rainhas do rádio Emilinha Borba e Marlene, com a apresentação de Grande Otelo.

Em 31 de maio de 1958 inaugurou-se a Rádio Nacional, para, nas palavras do presidente Juscelino, Brasília fazer ouvir sua voz ““das vertentes amazônicas às coxilhas gaúchas, e dos contrafortes andinos ao litoral atlântico.” A rádio foi o primeiro denominador comum da cultura da cidade. Sua programação abrangia tanto os sucessos tocados no Rio de Janeiro quanto músicas tradicionais das várias regiões do país.

O auditório da rádio se tornou o palco dos principais eventos da nova capital, sendo usado para fins diversos: discursos, cerimônias, seminários, festas. Não demorou para que o teatro entrasse na programação. Ali, foi encenada a primeira peça registrada na história de Brasília, “O Mal Entendido”, de Albert Camus, apresentação dos alunos da EAD (Escola de Arte Dramática) da USP, dirigidos por seu fundador, Alfredo Mesquita, durante o primeiro Festival de Arte de Brasília.

“__ Eu queria uma terra em que o sol matasse todas as perguntas.”

A fala da personagem Marta, a amargurada irmã do protagonista da peça, certamente não passou despercebida pela plateia. No texto de Camus a frase é uma alusão à Argélia, mas a identificação dos presentes era inevitável. Naquele setembro de 59, viviam o auge do período da seca, quando Brasília mostra aos visitantes a faceta mais cruel e desértica do seu clima.

A solidão, o tédio, a impessoalidade e a volta para um lar que não existe mais eram outros dos temas de “O Mal Entendido” que podiam ser associados aos ambíguos sentimentos dos que participaram da mudança da capital. Mas a crítica não estava entre as intenções de Alfredo Mesquita, e sim, a praticidade. “Escolhi a peça porque não havia cenário, era tudo muito simples, apenas uma cortina e os atores.” Declara ele no livro “A Educação pela Arte, o caso Brasília” de Maria de Souza Duarte.

O enredo não era mesmo dos mais palatáveis. Com referência nas grandes tragédias gregas a peça conta a história de um homem que após muitos anos retorna a cidade natal para reencontrar a mãe e a irmã. As duas mulheres administram uma sinistra pensão, tirando parte de seu sustento do roubo e assassinato dos hóspedes. O homem fica na antiga casa, mas não consegue que sua identidade seja reconhecida.

A peça teve uma acolhida boa, de uma plateia ainda segmentada. “Houve bastante aceitação do público, mais engenheiros e funcionários, candangos não assistiram”, afirma Alfredo Mesquita em “A Educação pela Arte, o caso Brasília”. O diretor ainda retornaria para a cidade para participar de diversos outros eventos culturais.

O auditório da Rádio Nacional continuou com um papel de destaque no teatro local. O radialista e dramaturgo Alfredo Ribeiro apresentou lá mais quatro peças: “Os Pioneiros”, “A Bonequinha”, “A província de Aratangos” e “Avenida W 33”. Alfredo foi o primeiro autor a residir em Brasília. Sua produção foi uma crônica dos costumes e do cotidiano da nova capital. Posteriormente foi esquecido, havendo poucos registros de seus textos.

Mas a apresentação que provocaria o maior impacto da época estava reservada para outro palco, esse utilizado apenas uma vez: a superfície do Congresso Nacional. Ali se realizou a “Alegoria das Três Capitais”, texto de Josué Montello com direção de Chianca de Garcia e música de Heitor Villa Lobos e Heckel Tavares.

O espetáculo ocorreu em 23 de abril de 1960 e encerrou os três dias de festividades pela inauguração da cidade. Quem permaneceu na Esplanada dos Ministérios presenciou uma epopeia, com produção sofisticada e corpo de baile, contando a trajetória do povo brasileiro através das três capitais de sua história.

Os anos seguintes marcariam a aparição de inúmeros grupos de teatro amador, em Brasília. Eram formados principalmente por jovens que se apresentavam nas ruas ou em palcos improvisados. Uma geração que começava a explorar as possibilidades daquela terra de poeira vermelha e avenidas largas e vazias. Suas identidades e caminhos seriam como a cidade em que viviam: difusos, incertos, mais uma invenção do que uma descoberta.