Nota do Editor do Blog: O nosso amigo Austregésilo mandou seu manifesto na véspera do último Natal, infelizmente devido a problemas postais só o recebemos em data próxima ao Carnaval. Lido na quaresma, decidimos aguardar até o Natal deste ano, ou uma data equivalente em outra cultura para sua publicação. Chegamos a considerar a Páscoa como momento apropriado, decisão descartada pela obviedade da piada. Mas para o Austregésilo deixar de torrar nossa paciência o texto vai agora mesmo. Divirtam-se.
Campanha: Pelo Natal do Escritor Feliz
Amigos, foi-se o tempo em que os livros estavam ausentes das listas de presentes e dos amigo-ocultos nas festas de Natal das famílias, firmas, clubes, ou qualquer outro lugar em que as pessoas se reúnem pra encher a cara de cidra e comer aquele frango transgênico com farofa e salpicão.
Sua tia, sua avó, seu chefe, seu cunhado, até mesmo aquela recepcionista extremamente gostosa (e que acha que Vinícius de Morais é o autor daquelas novelas passadas no Leblon) encontraram, entre seus desejos de consumo de fim de ano, um lugar para os livros, ali pertinho do reservado para a chapinha de cabelos, o grill do George Foreman e o CD do Roberto Carlos.
Era de se esperar que com esse surto bibliófilo os escritores tenham melhorado de vida ao menos o suficiente para que sua alimentação deixe de depender exclusivamente dos almoços com os editores e dos canapés das noites de autógrafos.
Ledo engano. Continuamos sem ter algum nem para os fios de ovos que adornam o tender, tendo que recorrer a meios vulgares de sobrevivência e até mesmo arrumar um emprego em casos extremos de penúria pecuniária (perdão, vez ou outra tenho recaídas no meu velho vício de aliterações).
“Pobres fatos, não se cansam de seus truques.” Assim diria um velho colega meu, ex-poeta concreto flertando com a realidade. Procuram-se livros escritos por todo tipo de gente: padre, pastor, defunto, ex-gordinho, ex-celebridade, ex-prostituta, ex-deputado. Todos vendem, com exceção de nós, escritores de ofício e vocação.
Amigos isto é uma indignidade que já não pode mais prosseguir. Por acaso nós bulimos com a profissão dos outros? (Tudo bem, o Moacyr é exceção, mas mesmo ele parou de clinicar depois que uma paciente reclamou da falta de coesão de uma de suas receitas). Ora senhores padres, por que não se contentam com o descomunal sucesso editorial da Bíblia? Para que se meter a fazer outros livros, até ontem isso não era heresia, meu Deus? Imagino a cara que fariam os senhores, se nós resolvêssemos sair por aí a rezar missas e distribuir exorcismos e extrema-unções.
Senhoras putas, após tão importantes serviços prestados à literatura universal, por que apagar as manchas de amor dos lençóis da história, fazendo suas próprias confissões sexuais venderem muito mais que as nossas. Senhores espíritos de luz, se não publicaram em vida, por que fazê-lo em morte, quando já não podeis mais desfrutar dos direitos autorais e das universitárias mais belas e faceiras a cada lançamento. Sejam camaradas, ó gasparzinhos, contentem-se em puxar nossos pés e parem de puxar nossos tapetes.
Austregésilo de Almeida é escritor premiado, traduzido em 17 idiomas e está com os exemplares de seu último livro, encalhados desde o natal de 88.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
to achando que austragesilo ta muito comedido, apesar de exato no pouco que disse. da a impressao que ele tem mais o que desabafar sobre essa banalizacao do escritor.
ResponderExcluirum conto da pior ressaca de natal de todos os tempos
ResponderExcluirhahhaha
ResponderExcluirsempre um texto bom =]
=*