sábado, 1 de maio de 2010

Notas do mundinho musical

Partideiros, compositores, jornalistas, rappers, intelectuais e desocupados em geral reuniram-se nesta tarde num bar próximo à Cinelândia, no centro do Rio de Janeiro, com um objetivo comum: encontrar uma nova rima para “samba”. Desde “O X do problema” de Noel Rosa, que lançou “bamba”, “muamba” e “caçamba”, o ritmo não possui palavras novas para alimentar sua auto-referência nesses últimos 80 anos.

Jurandir do Estácio abriu os trabalhos com “Joalheria”. “Bota brinco de pérola, pulseira de prata, colar de âmbar/ Sai toda dourada pra roda de samba.” A recepção foi um pouco fria, apesar da rabada com agrião fumegante, que chegou às mesas, ao mesmo tempo que a canção. “É muito certinho. Parece coisa da burguesia Zona Sul que infesta a Lapa”, disse Eugênio da Mata, jornalista, antropólogo e morador de Ipanema. Outro questionou se não seria perigoso uma madame ir pra Madureira tão cheia do ouro. Ganhou uns bons pescotapas pra aprender a ter mais respeito.

Quieto, num cantinho amontoado de cadeiras, Nelsinho da Gamboa passaria facilmente despercebido, talvez até mesmo conseguisse sair sem pagar a conta. Mas ele preferiu arriscar para a glória com “Exaltação à La Paz.” “Chegou uma encomenda de lá de Cochabamba/ Compra cerveja e convida o delegado pro samba.” Simples, direto e com a típica ironia-crônica-social-homenagem-à-essa-tal-malandragem que tanto agrada seus camaradinhas. Mas não pegava bem nesses tempos de UPP e Choque de Ordem.

Percebendo um certo exaltar nos ânimos, Paulinho Bloch do trio “Tive Não” preferiu apostar no tradicional e mandou seu “Morena”, com bastante convicção. “Cheia de veneno, gosta do sereno/ Na madrugada que a coisa descamba/ No baile funk e na roda de samba”. O comentário que se seguiu aos seus versos: “sem sal”, definitivamente não se referia à generosa porção de jilozinho frito da Tia Palmira, temperada na medida certa.

Tião de Oxóssi buscou algo mais raiz com “Quando o semba virou samba”. “Do batuque que nasce do pé, da Guiné, do Malauí, do Zâmbia, veio o semba que no candomblé cresceu até virar samba.” Gerou desconfiança entre a velha guarda. “Se tivesse mais meia dúzia de nome de orixá, até passava, mas só como samba-enredo”. Alguém ainda tentou levantar uma questão de coerência histórico-geográfica, mas ninguém deu ouvidos. O orvalho vinha caindo e os presentes decidiram subir a Rua do Lavradio, para resolver a parada na sinuca.

2 comentários:

  1. acho que todo mundo mandou mal pra CARAMBA. (pelo menos essa salvou uma CAIMBRA impertinente)

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