terça-feira, 9 de março de 2010

Bastidores do Mundinho Literário

Tudo nos conformes durante o lançamento do novo livro do poeta Paulinho Bic de Ouro: “Glosando o Gozo”(169 pág., edição do autor). Fãs, amigos de longa data e curiosos em geral aglomeraram-se nas mesas do Café da Rua 8, na 408 Norte, em ávida disputa pela batida de caju e pelos bolinhos de aimpim com carne seca, especialidade da mãe do autor. Dezessete exemplares foram vendidos, segundo estimativas da orgulhosa genitora.

A simpática senhora não quis se pronunciar a respeito da nova obra de Paulinho. Seu exemplo não foi seguido pelos integrantes da fila de autógrafos, que prevenidos, trouxeram de casa seus comentários. “Melhor que a mulher só a mulher”, disse Tico Blue, poeta concreto, parafraseando Neguinho da Beija Flor. “É a curva da Catedral, a umidade do Paranoá e a solidão das entrequadras no corpo da mulher amada”, anunciava o onipresente Nicolas Behr. “A criação poética sempre uma forma velada de masturbação, Bic de Ouro dispensa as metáforas e o jogo lírico jorra sem culpa”, opina Max Guimarães, aluno do segundo semestre do curso de Letras da UnB.

Longe dos gravadores e bloquinhos de anotações uma polêmica de menor escala corria à boca pequena pelas mesas dos literatos. “Glosando o Gozo” seria uma tentativa desesperada do poeta renovar seu público e recuperar seu prestígio com as incautas da linguística, após o fracasso de sua última publicação “Tucano na Cut”, um estudo de palíndromos sobre o sindicato dos servidores da prefeitura de Unaí. “Ele esnobou grandes musas do nosso tempo como Sandra Breyer, Adele Fátima e Regina Casé para concentrar-se nas moças do presente,” revela um amigo de infância de Paulinho que preferiu não se identificar. Uma releitura do poema “Jogos Frutais”, de João Cabral de Mello Neto, ocupa quase a metade do livro.

Questionado sobre o assunto, Paulinho Bic de Ouro não confirma nem desmente. Completa a dedicatória, dá um efusivo abraço no repórter e recita trechos de sua nova obra, escolhidos ao acaso. A poesia carrega em si suas respostas, mesmo que às vezes elas venham acompanhadas por gotículas de cuspe.

“Chateaubriand, Parmegiana, Osvaldo Aranha
Que receita se dá com essa pequena
Única dona de exuberância tamanha
Flor do estupor da Carne Morena”

(Trecho de Soneto à Mulher filé)

“Ai como ia ser bom
Ser só um ácaro no seu edredom
Tocar a bundinha na telinha
Fazer carne o que é cristal
Pra manter nossa insana paixão
Perco a dignidade, a razão
Aturo até o Pedro Bial”

(Trecho de Ode Espiadinha)

“Quando o vento sopra
a mata densa revela seu tesouro
Cachos a serem regados”

(Haikai para Cláudia Ohana)

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