domingo, 29 de maio de 2011

Da viagem

Bem vindo à Bahia
Mal saí do aeroporto de Salvador, já queria me passar por local e chegar de ônibus até a rodoviária. Decidi seguir um senhorzinho de camisa social, chapéu de vaqueiro e uma expressão que poderia ter lhe rendido uma ponta em Deus e o diabo na terra do sol. “Vim deixar meu menino no aeroporto, estou voltando pra casa.” O “menino” era aposentado e morava em São Paulo.

“Escusa, aqui é o ponto pra rodoviária?” Eu não era o único que tinha resolvido apostar no senso de direção do senhorzinho. Um coroa italiano, de shorts, havaianas e impressionante aspecto de morsa seguia o velho de longe. Deixo ao leitor a função de imaginar o sotaque macarrônico do distinto.

“Você é daqui da Bahia?” “Não, sou do Rio. Você?” “Firenze, mas moro aqui há vinte anos. É uma boa merda isso aqui.” Bem, não é exatamente a recepção dos sonhos da secretaria de turismo de Salvador. Mas era o que eu tinha pra encarar uma hora e meia de espera no ponto de ônibus.

“É suja, desorganizada, não tem merda nenhuma. Só puta.” E o conterrâneo dos Médici e de Botticelli continuava sua ladainha. “O que você resolve no Rio em 5 minutos, aqui na Bahia leva uma semana.” Fiquei encafifado com o que era possível resolver no Rio em 5 minutos. Mas não estava num dia de filosofias. Mandei, então, uma objetiva.

“Como é que você veio parar aqui?” O italiano puxou o ar com dificuldade pra dar um suspiro e respondeu. “Bem, foi por causa daquele negócio que a mulher tem no meio das pernas. Apaixonei, casei e vim”, contou o atualmente desquitado. “Mas eu vou mudar, mais uns dois anos e ciao. Escuta, no Rio ainda tem aquela boate em Copacabana, a Hippodromo?” Não sabia responder, aliás já não tinha mais o mínimo interesse em continuar conversando com o sujeito.

Ele resolveu se queixar para o senhorzinho de chapéu. Tentava convencer o velho (que tinha mais de oitenta e ainda fazia seu roçadinho) da indiscutível preguiça do baiano. “Você não acha o povo de Salvador descansado? Eu encontro o cara dormindo, peço pra fazer um frete, ele diz que são 800 reais. O sujeito quer ganhar tudo em um, dois dias pra descansar o mês inteiro”.

O italiano de aspecto de morsa não fazia ideia, mas ele acabava de resumir muito bem quais são minhas aspirações profissionais.

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