Pobres daqueles que saúdam a chegada do verão ligando o ar-condicionado. Não percebem o crime que cometem apagando os efeitos mais sublimes da estação símbolo dos trópicos. Como perder o espetáculo do rosear das bochechinhas e do cintilar das morenices mais faceiras? Aguardar a brisa da tarde penetrando nos vestidinhos das moças que passam. Vê-las sorrindo, agradecidas com a natureza.
O verão transforma aquele cumprimento casual nas pequenas, um beijinho pra lá, dois beijinhos pra cá, no ápice do dia de um homem. O suor de uma mulher é um bálsamo sagrado, perfume de alquimia delicada. Se apropria das mais variadas essências: óleos de sândalo, exóticas loções, protetor solar, para produzir a sua própria e inconfundível. Cada pele possui um almíscar pra chamar de seu. Mesmo sendo grande admirador da comparação pelo formato, a metáfora com as frutas eu faço pelo olfato.
Que espetáculo é a peleja da moça contra o calor infindo. Na fila do banco, na praia, no supermercado, trocando de lugar no ônibus pra fugir dos raios de sol. O puxa-puxa na laicra, saudável agonia com os panos que teimam em cobrir o corpo que padece. As coxas inquietas roçando-se, querendo escapar do vestido. E aquele sopro que ela dá no decote, mordendo o canto da boca e olhando pra baixo, toda esperançosa com a ventilação improvisada.
Quisera eu ser uma pedrinha de gelo, mulher. Derreter-te inteiro em ti, pra te salvar da inevitável insolação. Um Copertone em ebulição eterna pelo teu corpo, feito a manteiguinha do Marlon Brando. Se possível fosse transmutar-me-ia em um sacolé de coco pra servir de consolo pros seus lábios que mais sofrem.
Onã é personagem bíblico renegado e sabe o que é atravessar a seco o deserto do Saara
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Ah o suor das moças, como diria Jaime Ovalle, 4 da tarde que é a hora do amor
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