Bem amigos do cinema brasileiro, ontem eu capitulei a pressão desses deslumbrados das claquetes e fui assistir ao tal filme argentino que ganhou o Oscar. Veja bem, fui assistir em casa e com DVD comprado na Uruguaiana, que eu não vou dar meu dinheiro para esses diretores de la Boca. Já basta a grana que a Petrobrás dá para o Babenco.
Logo na primeira cena do filme uma irregularidade. Aquela estação de trem, uma multidão meio desfocada, trilha sonora incidental. Mas é a cópia piorada de Central de Brasil. Que pouca vergonha, eu não vejo um roubo tão claro desde a Copa de 78. Indignado pensei em atirar aquela fraude pela janela e voltar para minha gloriosa filmografia do Humberto Mauro. Mas engoli meu orgulho com alfajor e chimi churri e continuei assistindo aquele embuste.
O filme prosseguia com a história de um escritor e seu problema: não saber escrever. Cada coisa que o homem anotava em seu caderninho era uma combinação de metáforas terríveis. Creio que até meu colega Neto, da televisão concorrente, poderia mais em seus arroubos de inspiração. Angustiado com a falta de talento, o sujeito aposentado decide visitar seu antigo trabalho no funcionalismo público portenho e mexer no angu de um caso de assassinato e estupro, arquivado vinte anos atrás pela incompetente justiça do nosso querido povoado vizinho.
A partir daí vira um pouco de cada coisa. E cada coisa que vira a gente já fez melhor por aqui. “Filme de mulher assassinada pelada.” No nosso o culpado era um vampiro que preferia bundas às carótidas. “Filme de quero comer minha colega do escritório” Aí é até covardia, pra começar no deles não rola nem um reles peitinho da chefe gostosa e não tem nem secretária, quem vai apanhar o café é um office-boy. Coisas de argentino. “Filme de ditadura militar.” Vem cá, por acaso eles botaram o Pedro Cardoso pra seqüestrar o embaixador americano com a ajuda do Rui e da Vani?
E ao final o que descubro? Nem o roteiro do negócio era original. Ora, adaptar livro é coisa que o Barretinho já fazia quando ainda disputava as categorias de base da copinha de Cannes. E naquele tempo ainda presenteava as platéias mundiais com a Sônia Braga na cachoeira.
Os argentinos levaram essa do mesmo jeito de sempre. Na base da cusparada, da catimba e daquela câmera safada de seriado. Mas nada de chororô, torcida brasileira, o Walter Salles já providenciou o contra-ataque na Champions League de Hollywood com o “Pé na Estrada.” Diga aí, diretor brasileiro, quantos Oscars você não daria pra poder sussurrar um ação no ouvidinho da Kristen Stewart (a gostosa do Crepúsculo) e da Kirsten Dunst (a gostosa do Homem-Aranha)? Bota o Campanella no bolso, Waltinho!
sábado, 22 de maio de 2010
quarta-feira, 12 de maio de 2010
Frenesi Polissilábico
Comecei a ler o Frenesi Polissilábico na manhã (tarde) seguinte ao meu aniversário. A introdução e as duas primeiras críticas desceram suaves como um café com leite e pão picado com manteiga. Cumpriam com eficiência sua missão: distrair a cabeça da ressaca e da tarefa de arrumar o apartamento revirado.
Esse primeiro parágrafo é mais ou menos o que o Nick Hornby, autor do livro, faz por todo o Frenesi. Escrever sobre os livros de um ponto de vista totalmente pessoal, o que inclui contar se estava lendo numa viagem com os filhos pequenos enchendo o saco ou se é cunhado do autor. É uma crítica sem rame rame, sincera, focada na experiência da leitura. Enfim, não preciso falar nada disso aqui, basta você procurar no google.
Achei que o livro se encaixa na definição ideal de presente: uma coisa que você adorou ganhar, mas que por um motivo qualquer não compraria. É parecido comigo pelos olhos dos outros. Como não simpatizar com um sujeito que usa o mais importante de todos os critérios de avaliação da arte: a implicância.
Nick lia “Notas sobre um Escândalo” e estava gostando até o ponto em que um dos personagens se meteu a falar de futebol. Bastou uma simples frase sobre o resultado de um jogo pra iniciar sua ladainha. “Ninguém jamais disse o Arsenal ganhou do Liverpool de 3x0 em toda a história da língua inglesa ou do Arsenal. As pessoas falam “meteu”, “enfiou”, “deu de”, qualquer coisa menos ganhou.” Logo depois assim conclui esse adepto da filosofia do detalhes tão gigantes de nós dois. “E acho que meu desânimo e minha descrença me levaram a questionar outras coisas e a trama começou a se desenredar um pouco.” Isso ainda foi porque a mulher botou o time dele ganhando. Sabe quantas vezes eu já li num romance que o Botafogo ganhou de alguém? Uma! E eu era o autor.
Já deu pra perceber que isso aqui é só uma desculpa pra usar o mesmo critério com o Frenesi. Então vou parar de enrolar e contar logo qual foi minha implicância. Vira e mexe o sujeito elogiava uns livros que pareciam ter uma trama direitinha, com personagens interessantes e tal, mas eram previsíveis de dar dó. (Eu não li nenhum deles, mas dava pra sacar porque tinham um capítulo publicado entre as críticas. Basta uma colherada pra saber que falta tempero no feijão).
Mas eu não culpo o cara. Afinal, não dá pra exigir muito do gosto de alguém que cresceu vendo futebol inglês. O Beckhan pode até jogar direitinho, fazer seus golzinhos de falta e acertar umas cobranças de escanteio, mas duvido que ele consiga dar um drible da vaca, ou mesmo uma mísera pedalada. Futebol ou literatura, sem uma firula de vez em quando, ganham uma sonolência digna de um Fulhan X West Ham.
Enfim, o importante é que o Nick Hornby consegue escrever sobre livros sem parecer pedante ou vazio, o que eu acho bem difícil. Tem um clima de discussão de boteco (ou pub) que eu gosto bastante. As vezes ele vai feito um Gerrard com passes precisos, simples e inesperados. Noutras ele fica meio desengonçado, dá umas caneladas, mas faz gol e ganha no carisma. Feito um Peter Crouch.
Esse primeiro parágrafo é mais ou menos o que o Nick Hornby, autor do livro, faz por todo o Frenesi. Escrever sobre os livros de um ponto de vista totalmente pessoal, o que inclui contar se estava lendo numa viagem com os filhos pequenos enchendo o saco ou se é cunhado do autor. É uma crítica sem rame rame, sincera, focada na experiência da leitura. Enfim, não preciso falar nada disso aqui, basta você procurar no google.
Achei que o livro se encaixa na definição ideal de presente: uma coisa que você adorou ganhar, mas que por um motivo qualquer não compraria. É parecido comigo pelos olhos dos outros. Como não simpatizar com um sujeito que usa o mais importante de todos os critérios de avaliação da arte: a implicância.
Nick lia “Notas sobre um Escândalo” e estava gostando até o ponto em que um dos personagens se meteu a falar de futebol. Bastou uma simples frase sobre o resultado de um jogo pra iniciar sua ladainha. “Ninguém jamais disse o Arsenal ganhou do Liverpool de 3x0 em toda a história da língua inglesa ou do Arsenal. As pessoas falam “meteu”, “enfiou”, “deu de”, qualquer coisa menos ganhou.” Logo depois assim conclui esse adepto da filosofia do detalhes tão gigantes de nós dois. “E acho que meu desânimo e minha descrença me levaram a questionar outras coisas e a trama começou a se desenredar um pouco.” Isso ainda foi porque a mulher botou o time dele ganhando. Sabe quantas vezes eu já li num romance que o Botafogo ganhou de alguém? Uma! E eu era o autor.
Já deu pra perceber que isso aqui é só uma desculpa pra usar o mesmo critério com o Frenesi. Então vou parar de enrolar e contar logo qual foi minha implicância. Vira e mexe o sujeito elogiava uns livros que pareciam ter uma trama direitinha, com personagens interessantes e tal, mas eram previsíveis de dar dó. (Eu não li nenhum deles, mas dava pra sacar porque tinham um capítulo publicado entre as críticas. Basta uma colherada pra saber que falta tempero no feijão).
Mas eu não culpo o cara. Afinal, não dá pra exigir muito do gosto de alguém que cresceu vendo futebol inglês. O Beckhan pode até jogar direitinho, fazer seus golzinhos de falta e acertar umas cobranças de escanteio, mas duvido que ele consiga dar um drible da vaca, ou mesmo uma mísera pedalada. Futebol ou literatura, sem uma firula de vez em quando, ganham uma sonolência digna de um Fulhan X West Ham.
Enfim, o importante é que o Nick Hornby consegue escrever sobre livros sem parecer pedante ou vazio, o que eu acho bem difícil. Tem um clima de discussão de boteco (ou pub) que eu gosto bastante. As vezes ele vai feito um Gerrard com passes precisos, simples e inesperados. Noutras ele fica meio desengonçado, dá umas caneladas, mas faz gol e ganha no carisma. Feito um Peter Crouch.
sábado, 1 de maio de 2010
Notas do mundinho musical
Partideiros, compositores, jornalistas, rappers, intelectuais e desocupados em geral reuniram-se nesta tarde num bar próximo à Cinelândia, no centro do Rio de Janeiro, com um objetivo comum: encontrar uma nova rima para “samba”. Desde “O X do problema” de Noel Rosa, que lançou “bamba”, “muamba” e “caçamba”, o ritmo não possui palavras novas para alimentar sua auto-referência nesses últimos 80 anos.
Jurandir do Estácio abriu os trabalhos com “Joalheria”. “Bota brinco de pérola, pulseira de prata, colar de âmbar/ Sai toda dourada pra roda de samba.” A recepção foi um pouco fria, apesar da rabada com agrião fumegante, que chegou às mesas, ao mesmo tempo que a canção. “É muito certinho. Parece coisa da burguesia Zona Sul que infesta a Lapa”, disse Eugênio da Mata, jornalista, antropólogo e morador de Ipanema. Outro questionou se não seria perigoso uma madame ir pra Madureira tão cheia do ouro. Ganhou uns bons pescotapas pra aprender a ter mais respeito.
Quieto, num cantinho amontoado de cadeiras, Nelsinho da Gamboa passaria facilmente despercebido, talvez até mesmo conseguisse sair sem pagar a conta. Mas ele preferiu arriscar para a glória com “Exaltação à La Paz.” “Chegou uma encomenda de lá de Cochabamba/ Compra cerveja e convida o delegado pro samba.” Simples, direto e com a típica ironia-crônica-social-homenagem-à-essa-tal-malandragem que tanto agrada seus camaradinhas. Mas não pegava bem nesses tempos de UPP e Choque de Ordem.
Percebendo um certo exaltar nos ânimos, Paulinho Bloch do trio “Tive Não” preferiu apostar no tradicional e mandou seu “Morena”, com bastante convicção. “Cheia de veneno, gosta do sereno/ Na madrugada que a coisa descamba/ No baile funk e na roda de samba”. O comentário que se seguiu aos seus versos: “sem sal”, definitivamente não se referia à generosa porção de jilozinho frito da Tia Palmira, temperada na medida certa.
Tião de Oxóssi buscou algo mais raiz com “Quando o semba virou samba”. “Do batuque que nasce do pé, da Guiné, do Malauí, do Zâmbia, veio o semba que no candomblé cresceu até virar samba.” Gerou desconfiança entre a velha guarda. “Se tivesse mais meia dúzia de nome de orixá, até passava, mas só como samba-enredo”. Alguém ainda tentou levantar uma questão de coerência histórico-geográfica, mas ninguém deu ouvidos. O orvalho vinha caindo e os presentes decidiram subir a Rua do Lavradio, para resolver a parada na sinuca.
Jurandir do Estácio abriu os trabalhos com “Joalheria”. “Bota brinco de pérola, pulseira de prata, colar de âmbar/ Sai toda dourada pra roda de samba.” A recepção foi um pouco fria, apesar da rabada com agrião fumegante, que chegou às mesas, ao mesmo tempo que a canção. “É muito certinho. Parece coisa da burguesia Zona Sul que infesta a Lapa”, disse Eugênio da Mata, jornalista, antropólogo e morador de Ipanema. Outro questionou se não seria perigoso uma madame ir pra Madureira tão cheia do ouro. Ganhou uns bons pescotapas pra aprender a ter mais respeito.
Quieto, num cantinho amontoado de cadeiras, Nelsinho da Gamboa passaria facilmente despercebido, talvez até mesmo conseguisse sair sem pagar a conta. Mas ele preferiu arriscar para a glória com “Exaltação à La Paz.” “Chegou uma encomenda de lá de Cochabamba/ Compra cerveja e convida o delegado pro samba.” Simples, direto e com a típica ironia-crônica-social-homenagem-à-essa-tal-malandragem que tanto agrada seus camaradinhas. Mas não pegava bem nesses tempos de UPP e Choque de Ordem.
Percebendo um certo exaltar nos ânimos, Paulinho Bloch do trio “Tive Não” preferiu apostar no tradicional e mandou seu “Morena”, com bastante convicção. “Cheia de veneno, gosta do sereno/ Na madrugada que a coisa descamba/ No baile funk e na roda de samba”. O comentário que se seguiu aos seus versos: “sem sal”, definitivamente não se referia à generosa porção de jilozinho frito da Tia Palmira, temperada na medida certa.
Tião de Oxóssi buscou algo mais raiz com “Quando o semba virou samba”. “Do batuque que nasce do pé, da Guiné, do Malauí, do Zâmbia, veio o semba que no candomblé cresceu até virar samba.” Gerou desconfiança entre a velha guarda. “Se tivesse mais meia dúzia de nome de orixá, até passava, mas só como samba-enredo”. Alguém ainda tentou levantar uma questão de coerência histórico-geográfica, mas ninguém deu ouvidos. O orvalho vinha caindo e os presentes decidiram subir a Rua do Lavradio, para resolver a parada na sinuca.
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