Enfrentar a escada em espiral do CCBB do Rio ao invés de pegar o elevador gera vantagens além das produzidas pelo exercício físico. Escolhendo esse caminho pude encontrar antes da exposição uma frase. Para ser mais exato, uma pergunta. “O que aconteceria se ao invés do ponto, houvesse um relógio mostrando quanto tempo se levou para aquela sentença ser escrita?”
Creio ser essa uma questão que interessa a todos aqueles que insistem em contar histórias. Laurie Anderson faz parte dessa patota. Pelo menos é o que diz o texto de apresentação da sua exposição “I in You” ou “Eu em Tu”, numa tradução meio caetana. Não é exatamente o que se espera ler quando se trata de uma artista plástica experimental. De vez em quando a vida traz umas surpresas legais.
A ausência de explicação é característica básica das narrativas. Ela estaria definhando pela necessidade crescente de explicação no mundo. Pelo menos foi o que Walter Benjamin disse lá no começo do século XX. Como é comum entre os pessimistas talentosos: vão previsões, ficam definições. E em se tratando de nada explicar a maneira mais eficiente de narrar, ainda é a primeira: o sonho.
E isso que “Eu em Tu” faz: contar sonhos. Primeiro através do sussurro. Encoste seu ouvido nas cores e espere. Talvez seja silêncio. Talvez uma história que você pega no meio. De repente uma frase te encontra. “Em meus sonhos, sou sua cliente.” Nesses tempos em que proliferam nos museus hologramas e luzinhas que reagem ao espectador através de complexos esquemas binários, Laurie Anderson faz da arte interativa algo mais simples e bonito: ouvir sonhos em uma pintura.
Em outra parte da exposição, fotos de Laurie sonhando. Sempre em lugares públicos. Registrou em anotações o efeito do ambiente na sua cabeça. Nuvens em um tribunal de júri, biblioteca com estantes vegetais no sofá do banheiro de um bar. Repare no caderninho jogado no canto, com o título “O Coelhinho Cinza”. Dentro dele uma internação de infância que vira fábula. Histórias são assim: “Cada vez que você conta esquece mais”.
Ao fim fica a agradável impressão que a instalação, feito qualquer outra forma de arte, é como tocar violão. Todo mundo pensa que sabe, mas não é em qualquer birosca que se encontra um Baden Powel.
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