terça-feira, 22 de novembro de 2011
terça-feira, 1 de novembro de 2011
Bombril na Antena
Das seções do blog, essa é mais fácil de fazer e a que teve maior ausência, mais ou menos uns 15 meses. Desses uns 10 foram por preguiça, mas pelo menos 5 justificam-se por eu não ter assistido televisão, contando os 2 meses da viagem, mais uns 3 que eu fiquei enrolando pra botar TV aqui em casa. Como no prédio novo não rola antena coletiva, o limite para a busca incessante pela fina flor da televisão brasileira muda para o pacote basicão da SKY.
Zapear ali tem uma ponta de crueldade, já que graças ao guia da programação você pode descobrir tudo aquilo que poderia ver se fosse menos pão duro. Mas tudo parece melhor quando você para no Sesc TV e encontra... Marina Person. O que a musa da minha pré-adolescência estaria fazendo ali? Apresentando um programa de calouros.
Mas nada é assim tão simples nesse simpático canal, uma espécie refúgio da porção do audiovisual paulista que é excêntrica demais para a TV Cultura. Os calouros eram performers e artistas plásticos e os jurados: curadores e marchands. Tirando por esse detalhe o “Art Idol” funcionava seguindo as tradições de seus semelhantes: de Silvio Santos ao Raul Gil. Cada artista escolhia uma performance famosa, apresentava sua versão e era submetido às impiedosas avaliações do júri.
O início não foi lá muito animador. Um casal resolveu apresentar a performance do AH. Eles ficavam um diante do outro e AHH... Igual naquela antiga propaganda de creme dental ou em aquecimento de voz em aula de teatro. O veredicto dos jurados foi unânime e condizente com a reação da plateia. “Muito ruim, mais muito ruim mesmo”, disparou um dos figurões que já havia se apresentado dizendo que “esse negócio da arte querer se apropriar da mídia é muito anos 80”.
Em seguida apareceu um careca querendo cobrar um real por um beijo de língua. O programa informa que a ideia original veio da França, em 1976 quando uma moça chamada Orlan fez o mesmo em frente a uma feira de arte. Nenhuma palavra sobre as tradicionais barraquinhas de beijo que há décadas fazem a alegria em inúmeras quermesses Brasil afora. Muito me entristece tamanho desprezo pela cultura nacional.
O careca empolgou pouca gente, uma moça, uma senhora e um tio barbudo com pinta de pai do Marcelo Camelo. “A libido do paulista já é meio baixa, se ainda fosse em Salvador, nos anos 80...” lamentou uma das juradas.
Julguei arriscada a escolha da próxima candidata: "Cut Piece" da Yoko Ono. Devia ser o equivalente a alguém chegar dizendo que vai cantar “Imagine”ou coisa parecida. Mas o público curtiu a ideia e desceu em peso pra poder cortar um pedaço do vestido branco da moça, que levou pouco menos de um minuto para desaparecer liberando a sua nudez.
Os jurados deliraram: uma resolveu misturar a cor branca do vestido com a origem judia da artista e concluiu que ali havia um “importante manifesto pela paz no Oriente Médio”, outro ressaltou o “poder surrealista do uso da escada”, uma observação que agradou profundamente seus pares. A moça ganhou, o programa terminou e eu continuei sem entender nada sobre o conceito de cover na arte contemporânea.
Zapear ali tem uma ponta de crueldade, já que graças ao guia da programação você pode descobrir tudo aquilo que poderia ver se fosse menos pão duro. Mas tudo parece melhor quando você para no Sesc TV e encontra... Marina Person. O que a musa da minha pré-adolescência estaria fazendo ali? Apresentando um programa de calouros.
Mas nada é assim tão simples nesse simpático canal, uma espécie refúgio da porção do audiovisual paulista que é excêntrica demais para a TV Cultura. Os calouros eram performers e artistas plásticos e os jurados: curadores e marchands. Tirando por esse detalhe o “Art Idol” funcionava seguindo as tradições de seus semelhantes: de Silvio Santos ao Raul Gil. Cada artista escolhia uma performance famosa, apresentava sua versão e era submetido às impiedosas avaliações do júri.
O início não foi lá muito animador. Um casal resolveu apresentar a performance do AH. Eles ficavam um diante do outro e AHH... Igual naquela antiga propaganda de creme dental ou em aquecimento de voz em aula de teatro. O veredicto dos jurados foi unânime e condizente com a reação da plateia. “Muito ruim, mais muito ruim mesmo”, disparou um dos figurões que já havia se apresentado dizendo que “esse negócio da arte querer se apropriar da mídia é muito anos 80”.
Em seguida apareceu um careca querendo cobrar um real por um beijo de língua. O programa informa que a ideia original veio da França, em 1976 quando uma moça chamada Orlan fez o mesmo em frente a uma feira de arte. Nenhuma palavra sobre as tradicionais barraquinhas de beijo que há décadas fazem a alegria em inúmeras quermesses Brasil afora. Muito me entristece tamanho desprezo pela cultura nacional.
O careca empolgou pouca gente, uma moça, uma senhora e um tio barbudo com pinta de pai do Marcelo Camelo. “A libido do paulista já é meio baixa, se ainda fosse em Salvador, nos anos 80...” lamentou uma das juradas.
Julguei arriscada a escolha da próxima candidata: "Cut Piece" da Yoko Ono. Devia ser o equivalente a alguém chegar dizendo que vai cantar “Imagine”ou coisa parecida. Mas o público curtiu a ideia e desceu em peso pra poder cortar um pedaço do vestido branco da moça, que levou pouco menos de um minuto para desaparecer liberando a sua nudez.
Os jurados deliraram: uma resolveu misturar a cor branca do vestido com a origem judia da artista e concluiu que ali havia um “importante manifesto pela paz no Oriente Médio”, outro ressaltou o “poder surrealista do uso da escada”, uma observação que agradou profundamente seus pares. A moça ganhou, o programa terminou e eu continuei sem entender nada sobre o conceito de cover na arte contemporânea.
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