terça-feira, 19 de julho de 2011

A gente sempre vai ter Paquetá

Não adianta procurar Odair Maracanã no Google. Esqueça o celular. Quanto ao endereço, o certo é sempre o da semana passada. Odair vive entre os chamados “Hotéis para solteiros”, do centro da cidade. Tem alguns bares de preferência. Talvez aquele boteco sem nome que fica numa rua vizinha da Praça Tiradentes, seja um deles. Lá ele não paga cerveja em dia de roda de samba. Muito justo. Dos que sobem no palquinho improvisado apenas Odair dispara inéditas ao microfone.

A gente sempre vai ter Paquetá

(Odair Maracanã/Malaquias)


Vem menina, vem cá
Volta pra cama já já
Diz que eu sou seu Humphrey Bogart
Deixa essa Paris pra lá
A gente sempre vai ter Paquetá
O tal do inevitável
Bem podia esperar
Feito os 5 minutos
Que usamos pra acordar
O meu amor não morre de inanição
O caso é sempre de execução
Por que não vem você
Botar uma UPP
No meu coração

O chapéu preto que usa à semelhança do ator e veterano de guerra norte-americano citado na canção destaca-se no meio do mar de panamás entre as cabeças da cidade. Não é tão mal humorado quanto dizem. Quando não enchem seu saco, o velhinho é até simpático. “Maracanã mesmo só eu, o estádio é Mário Filho.” Percebi que Odair terminava a segunda dose de cachaça. Achei o momento adequado pra conversar sobre o seu samba.

“Esse aí veio atrasado. Pelo menos uns trinta, quarenta anos. Acontece as vezes...” Na época da primeira estrofe, Maracanã namorava uma das musas de Sargentelli. “Sem a mulata, a vida é triste. Aquele filho da puta enchia a cabeça dela, com essa conversa de Paris, show no estrangeiro. E a coitadinha se impressionava até com Copacabana.”

Os primeiros versos vieram fáceis, redondinhos, então empacaram. “Não sabia o que botar depois de Paquetá. Como eu ia entregar um samba pela metade para um amor que era inteiro?” A moça saiu do Rio, fez carreira na Europa e nos Estados Unidos. Depois dizem até que voltou. Mas o samba ela não ouviu. E ninguém mais ouviria se não fosse por uma foliã, numa ensolarada segunda de Carnaval.

“Estava muito bem no “Já comi pior pagando” lá na Tijuca. De repente sinto um jato d´água no cocuruto. Viro e vejo uma menina toda graciosa, fantasiada de oficial do BOPE. Mandei ali mesmo: meu amor, vem botar uma UPP no meu coração. Ela sorriu e passou, seguindo o bloco. Na quarta-feira de cinzas chamei meu parceiro Malaquias. Em duas horas o samba ficou pronto. E olha que a gente estava de ressaca.”

segunda-feira, 4 de julho de 2011

Crítica de cinema do Galvão

Bem amigos do cinema brasileiro. Podem falar que minha implicância é pelas copas de 86, 98 e 2006. Não ligo. Pra mim assistir filme francês é como ver um jogo de futebol com comentários interruptos do meu colega Casagrande. E que ainda termina em zero a zero. Por isso não entendo a razão daquele diretor velhinho, que anda custeando as férias da família em produções cinematográficas ter preferido Paris ao Rio.

Não nego que a cidade francesa tenha lá seus encantos, eu mesmo costumava dar uma esticada por lá, com uma patota da fórmula 1, Jean Todt, o Prost, o Piquet. Turminha boa, mas não se comparam aos meus amigos do Jobi. Ora, se era caso de filmar a cidade na chuva, porque Paris? Só por conta daquele para-raio gigante da Torre Eifel. Não era mais fácil botar umas câmeras na Praça da Bandeira, meu Deus?

E aquela onda toda de Paris é uma Festa. Os gauleses até empatam conosco no quesito escritores bêbados, mas em festa? Por acaso o Hemingway já saiu no Bola Preta? O Fitzgerald já se esbaldou numa feijoada da Tia Surica? A Gertrude Stein já desceu até o chão? Depois se era pra botar um monte de ator fazendo papel de intelectual, melhor fazer igual o Caetano no “Cinema Falado” e botar os próprios, economizando na grana do cachê.

Além de tudo o caso é de ingratidão. Afinal, sem Brasil não existiria Woody Allen. O ancião diretor não cansa de alardear por aí seu apreço por Machado de Assis. Mas o buraco do projetor é mais embaixo. Pergunte a qualquer fã desse senhor sobre seu filme favorito. Se o sujeito ao invés de bancar o esperto responder com sinceridade vai dizer: "Noivo Neurótico, Noiva Nervosa", "Manhattan". Depois de responder a expressão do fã vai adquirindo nostalgia até explodir em pranto convulsivo. "Por que ele não faz mais filmes assim, meu Deus?"

Simples, porque ele não fazia sozinho. Seu auge só ocorreu com a parceria com Marshall Brickman. E advinhe onde nasceu Marshall? No Rio de Janeiro. Não é coincidência a semelhança dos filmes de Allen com a obra Domingos de Oliveira, único a conseguir fazer 150 longas apenas entre Ipanema e o Baixo Gávea. Em 68, Dominguinhos terminava o insuperável “Todas as mulheres do mundo”, com Lelilinha Diniz. E Woody Allen fazia o quê? Stand up comedy, em infectos bares no Brooklyn.

No mais, isso de fazer filme sobre uma cidade, também é coisa nossa. Pois enquanto Buñuel estava lá ocupado com olhos cortados, cães andaluzes e outras esquisitices, o grande Humberto Mauro finalizava seu “Sinfonia de Cataguases”, eternizando a aprazível cidade mineira na história do cinema mundial. E em termos de escolha de elenco francófono, ninguém supera Mário Peixoto. O gênio de Mangaratiba disse que só faria um segundo filme se fosse estrelado por Brigitte Bardot e Roberto Carlos. Pena que na época, a Petrobrás andava mal das pernas.